A Era dos Invencíveis - Arsenal 2003/2004
Hoje é dia de recordar o poderoso Arsenal que em 2004, nas mãos de Arsène Wenger, se tornou a primeira equipa da história a conquistar a Premier League, sem somar qualquer derrota!
Há equipas que nos fazem querer recuar atrás no tempo, para de forma nostálgica recordar momentos inesquecíveis no futebol mundial. E este fantástico Arsenal que foi, aliás, o último plantel a ser campeão pelo clube, elevou a fasquia em 2004 a um ponto que ainda mais ninguém chegou: conquistar a Premier League sem somar qualquer derrota! Pelo incrível feito consumado, com Arsène Wenger no comando técnico, este plantel ficou recordado com o nome “Invencíveis”!
Depois de uma temporada 2002/2003 que ficou marcada pelas conquistas da Supertaça e Taça de Inglaterra, o Arsenal arrancava a época 2003/2004 com possibilidades de disputar todos os troféus! Os Gunners encerraram a época anterior com 2 vitórias consecutivas para o campeonato (Southampton por 6-1 e Sunderland por 4-0), que seriam apenas o início de uma histórica série de jogos sem perder! Foi uma temporada onde além das duas conquistas, a luta pela Premier League foi discutida até ao fim, ficando apenas a 5 pontos de distância do Manchester United e a Champions, tinha sido apenas uma miragem.
Ao Highbury, antigo estádio do Arsenal, chegavam reforços para esta nova temporada, entre os quais perfilavam nomes como Jens Lehmann, guardião alemão proveniente do Dortmund e que seria uma referência na baliza do Arsenal, mesmo aos 34 anos, e José António Reyes, que custaria 20 milhões de euros depois de fazer uma temporada entusiasmante no Sevilha com apenas 20 anos! Chegaria também nesse mercado Gaël Clichy, jovem lateral francês que seria uma referência do Arsenal anos mais tarde, pelo longo percurso que teria no clube, mas que ali era apenas uma aposta de futuro nas mãos do técnico francês! Estes nomes juntavam-se a um plantel sensacional com nomes como Thierry Henry, Dennis Bergkamp, Robert Pirès, Gilberto Silva, Patrick Vieira, o ainda novinho Cèsc Fàbregas, Sol Campbell, Kolo Touré, Ashley Cole, entre outros que encantavam o futebol inglês! Tão bom que seria voltar atrás no tempo, para ver novamente esta equipa jogar…
A primeira competição nem começou da melhor maneira. A equipa de Wenger perdia a Supertaça (Community Shield) para o Manchester United de Alex Ferguson, que conquistava a prova na marca das grandes penalidades. Mas a Premier League seria o oásis desta temporada inesquecível! Ao fim de 4 jornadas, o Arsenal só somava vitórias. Triunfos contra Everton, Middlesbrough, Aston Villa e Manchester City marcavam um mês de Agosto invencível, com 10 golos marcados e apenas 2 sofridos. Em Setembro chegavam os primeiros empates (Portsmouth e Manchester United, com a derrota sobre o Inter pelo meio, na Liga dos Campeões). À exceção da primeira volta da fase de grupos da Champions, onde os Gunners conquistaram apenas um ponto, tudo o resto estava a virar um belo conto de fadas. As vitórias consecutivas sobre Liverpool e Chelsea, bem como o apuramento à ronda seguinte na Taça diante de um desafiante Rotherham, davam motivos para os adeptos sorrirem.
O 4-4-2 era o esquema habitual utilizado por Arsène Wenger neste plantel. A utilização de dois médios todo-o-terreno como Patrick Vieira e Gilberto Silva, aliados à criatividade e finalização de Bergkamp e Henry, que até tinha um Sylvain Wiltord como suplente de luxo, eram as grandes armas de uma equipa que demonstrava um grande espírito de entreajuda e uma enorme capacidade de trabalho, que se juntava a uma grande compreensão técnico-tática, difícil de travar. Fechada a primeira volta da Premier League, o Arsenal tinha 13 vitórias e 6 empates e prosseguia no primeiro lugar, ainda que com os Red Devils à perna, eles que chegaram a saltar para a frente do campeonato na 21ª jornada. A campanha na Champions dava uma cambalhota sensacional. Depois de uma primeira volta com 3 jogos péssimos, o Arsenal venceu os 3 jogos da segunda volta, com destaque para a goleada por 5-1 sobre o Inter, em pleno Giuseppe Meazza, com direito a bis de Henry que assinou uma exibição monstruosa!
O Arsenal ainda assim cairia em ambas as taças nas meias finais, dando total prioridade ao trajeto histórico que iam assinando na Premier League e na Champions, que deu uma bela volta. Durante 3 meses, os gunners empataram apenas 2 vezes em 11 jogos para o campeonato e começava a criar-se a expectativa do título inglês. Era difícil escapar à surpresa que era ver uma equipa sem perder na liga mais competitiva do mundo. Era de loucos!
No final de Março chegavam as grandes decisões. A equipa saiu da Taça de Inglaterra pela mão do carrasco Manchester United que foi a única equipa naquela temporada que nunca perdeu com o Arsenal. Em 4 confrontos para todas as competições, empatou as duas no campeonato e perdeu nas taças. Impressionante o trabalho de Alex Ferguson, que foi ainda assim insuficiente para superar os Gunners! Na Liga dos Campeões, os Invencíveis tinham eliminado o Celta de Vigo nos Oitavos e era a vez do Chelsea de Claudio Ranieri. Depois de um empate em Stamford Bridge, acabou por ser no Highbury que os blues eliminavam os rivais de Londres já nos instantes finais, o que colocava Wenger a olhar para um só objetivo: conquistar a Premier League e de preferência a alcançar um recorde!
E assim foi. Nos 10 jogos finais no campeonato, o Arsenal venceu 6 e empatou 4, sagrando-se campeão com um avanço estrondoso e de forma antecipada, na casa do rival do Norte de Londres (Tottenham), com um empate a 2 bolas que fechava as contas do título 4 jornadas antes! O impressionante trajeto, motivou os jogadores a jogarem os restantes jogos do calendário com o objetivo de não perder para fazer história!
Este brilhante Arsenal terminou a Premier League com 90 pontos (11 a mais do que o Chelsea), 26 vitórias e 12 empates, 0 derrotas, 73 golos marcados e 26 sofridos. No meio de um plantel recheado de tamanha qualidade, havia ainda assim um grande nome a salientar pela temporada digna de uma bola de ouro (acabou por ficar em 4° lugar) que fez nesse incrível Arsenal: Thierry Henry!
O francês fechou a temporada com 51 jogos para todas as competições, onde fez 39 golos e 15 assistências. Destaque para o seu desempenho no campeonato, onde em 37 jogos, assinou 30 golos e 6 assistências. Obviamente o MVP da Premier League 2003/2004 e a figura maior de uma equipa que até se apreciava mais pelo seu coletivo. Robert Pirès foi outro dos grandes nomes. Com 19 golos e 13 assistências, foi a par de Henry um dos melhores desta geração dos Invencíveis! Ambos seriam, nesse verão, convocados para a seleção francesa no Euro 2004, realizado em Portugal, onde caíram nos Quartos de Final contra…. a Grécia! Juntos, no Arsenal principalmente, aliavam a explosão, velocidade e finalização de um, com a inteligência, criatividade e magia do outro! Dois dos grandes pilares da que é, até hoje, a última Premier League da história do Arsenal!
O que esta equipa jogava, não se consegue definir em palavras. Eis um vídeo com alguns dos golos que marcaram o trajeto deste Arsenal, para preencher aquilo que um texto não consegue exprimir. Só vivendo, meus amigos!
O dado mais impressionante é que esta tremenda série invencível do Arsenal tinha começado em Maio de 2003, prolongou-se por toda a temporada 2003/2004 e só acabou em Outubro de 2004, na época seguinte, quando os Gunners perderam, adivinhe-se, contra o incrível Manchester United de Alex Ferguson. Foram 49 jogos em que os adeptos nunca sentiram o sabor da derrota. Um registo único! No ano seguinte, o Arsenal terminaria o campeonato em segundo lugar, porque chegava a Londres, ao lado azul mais propriamente, um treinador que havia conquistado a Europa no ano anterior e que chegou a Inglaterra com a frase: “I’m the Special One!”. José Mourinho, pois claro!