Aitana Bonmatí: A Bola de Ouro feminina com o ADN do futebol total!
Aitana Bonmatí foi eleita a melhor jogadora do mundo em 2023, num ano histórico onde ganhou tudo e nos fez recuar às suas origens e influências, que vêm desde o Barcelona de Guardiola e Cruijff!
Aitana Bonmatí é a justíssima melhor jogadora do mundo de 2023 e recebe esta distinção pela primeira vez na sua carreira, num ano em que não havia quaisquer dúvidas. Apesar de a sua posição e estilo de jogo não se resumirem em muitos golos e assistências, o perfume futebolístico da média espanhola não tem igual pelo mundo fora. Conquistou tudo no Barcelona e foi a grande figura do Campeonato do Mundo de 2023, na seleção espanhola, onde além de ter conquistado um título inédito, foi a melhor jogadora da competição e um dos rostos ativos na defesa das suas colegas, no caso polémico de Rubiales e Jenni Hermoso. Mas recuemos ao passado desta craque, para entendermos melhor este percurso magnífico que começou na rua com os rapazes e que chega agora a uma gala da Bola de Ouro.
Nascida na Catalunha, desde cedo criou raízes futebolísticas numa região em que o principal clube é símbolo de identidade. Esse orgulho local, começou a partir de casa, mas o amor pelo futebol em particular começou aos 7 anos, quando ali bem perto, em pleno Camp Nou, Ronaldinho espalhava magia e seria a influência máxima de muitos jovens naquela altura que, tal como Aitana, sonhavam em pisar o relvado dos blaugrana. Mas durante esta fase da sua vida em que sonhava viver num mundo que até então era destinado apenas a rapazes, Bonmatí via esta paixão ser uma questão de orgulho. Desde muito nova sofria bullying na escola, sobretudo dos colegas com quem queria jogar futebol. Por ser mais pequena, sofria várias pancadas propositadas dos seus companheiros de campo, que sentiam raiva de ver uma menina a jogar tanto ou mais que os rapazes. Mas nem aí baixou os braços. Começou a ganhar vontade de se impor, trabalhou arduamente e cresceu rodeada deste ambiente de desvalorização da mulher no desporto rei. Desenvolveu uma resiliência e caráter únicos, que a fazem hoje ser a brilhante jogadora que é. Aos 13 anos, recebeu o convite do Barcelona para treinar nas camadas jovens e esta chegada coincidiu incrivelmente com um dos melhores momentos da história do clube. No futebol sénior masculino estava a maravilhosa equipa de Pep Guardiola. Aquela máquina implacável que revolucionou todo o futebol espanhol e foi a base do auge da seleção nacional de Espanha. Aitana Bonmatí começou a criar referências que seguiu como exemplo na sua forma de jogar. Um misto de Xavi, Iniesta e com influências claras da mentalidade do futebol total, implementada nos blaugrana inicialmente por Johan Cruijff e mais tarde por Guardiola.
O 14 que enverga às costas em Barcelona, é sinal dessa influência. O número que revolucionou o futebol mundial no tempo de Cruijff, é o que vai agora mudando a mentalidade da sociedade em torno do futebol feminino. Aitana enraizou em si o ADN do Barça, a cultura do futebol total e a forma como pensa e executa no jogo, transformou-a numa jogadora capaz de fazer todas as funções do meio campo, com a particularidade de ter características notáveis como a distribuição de jogo e a mudança de direção na condução de bola, aliados a uma qualidade de passe simplesmente abismal. Mal ela sabia que os seus ídolos de infância seriam um dia os seus fãs. Guardiola disse que ama vê-la jogar, Iniesta e Xavi também já realçaram as qualidades da mais recente Bola de Ouro. O mundo rende-se aos pés de Aitana, a menina que no meio dos rapazes deu-se a conhecer desde os pátios na escola aos maiores palcos do futebol feminino.
Na seleção espanhola, com o 6 às costas neste último Mundial, somou exibições que deram vibes de Andrés Iniesta, no Mundial 2010 (o mais icónico que assisti em toda a minha vida). Aquela seleção dava prazer de assistir e servia de inspiração para treinadores e jogadores que procuravam vingar no futebol mundial. Os amantes largavam tudo para ver a Espanha de Vicente del Bosque, que entre 2008 e 2012 dominou tudo! Todos admiravam o tiki-taka, que se tornou uma identidade do futebol espanhol e um símbolo da recriação da ideologia de Cruijff. Aitana tinha na altura 12 anos e já idolatrava a dupla Xavi-Iniesta. Mais tarde, tornar-se-ia um misto de ambos, além de uma eterna apaixonada pelo seu Barcelona.
Foi das poucas que, durante os patamares de formação, nunca saiu do clube. Ao contrário do que aconteceu com várias referências do futebol feminino blaugrana (Alexia Putellas por exemplo), Bonmatí nunca precisou de sair por empréstimo para ganhar maturidade competitiva. A sua elegância é incomparável e desde cedo se percebeu que era crucial para acompanhar o futuro (que agora é presente) de sucesso que se previa em Barcelona. Diz-se que é a primeira a entrar no treino e a última a sair, que é uma viciada pela paixão futebolística que a consome com intensidade suficiente para não pensar em mais nada o dia inteiro. É o preço a pagar quando fazemos aquilo que amamos.
Aitana Bonmatí é especial. Talvez a mais impressionante que já vi na minha vida. E toda a nostalgia de poder ver nela, referências do meu passado, torna toda a experiência de a ver jogar ainda mais incrível. 25 anos, mas com uma personalidade forte, reforçada pelo bullying e os momentos em que decidiram desvalorizá-la, e uma inteligência técnica e tática que não se via há muitos anos, até mesmo no futebol masculino! A juntar a tudo isto, é uma voz ativa em causas sociais. Dar uma Bola de Ouro a um ser humano tão exemplar, era o mínimo que se poderia fazer para enaltecer a grandeza que, no alto dos seus 161 cm, preenchem um campo de futebol e fazem levantar uma plateia de apaixonados!
A melhor do mundo em 2023. A melhor que já vi jogar!