O maravilhoso crescimento do futebol feminino em Portugal
Depois de um ano espetacular a nível nacional com uma classificação histórica no Ranking FIFA e um recorde incrível de atletas federadas no futebol feminino, há motivos para sorrir em Portugal!
O futebol está a atingir alcances incríveis nos últimos anos e, felizmente, deu-se espaço para o futebol feminino começar a ter o seu crescimento. Estes últimos tempos têm sido uma verdadeira lufada de ar fresco para o futebol feminino em Portugal com uma evolução a olhos vistos tanto em termos de qualidade no próprio processo de jogo, técnica e tacticamente, como principalmente na divulgação e no apoio a um futebol que já começa, cada vez mais, a ser um espaço para as mulheres sonharem!
Este ano de 2022 foi um dos melhores de sempre na projeção da modalidade, um pouco por todo o mundo! Contado em episódios soltos mas cheios de história, 2022 fecha com um recorde de assistência num jogo de futebol feminino. Foi em pleno Camp Nou, a 22 de Abril, que o embate entre Barcelona e Wolfsburg para a primeira mão das meias finais da Liga dos Campeões, registou a presença de 91.648 adeptos, estabelecendo um recorde mágico para a realidade difícil que durante muitos anos invadiu o futebol feminino, que procurou crescer a pouco e pouco num desporto que há muito tempo que é visto como uma coisa só para homens!
Depois desse maravilhoso duelo europeu, em Maio, o jogo do título em Portugal, entre Benfica e Sporting, foi disputado no Estádio do Sport Lisboa e Benfica, perante uma plateia de 14.221 espectadores que registou um novo recorde de assistência em competições oficiais de futebol feminino.
As notícias que foram dando conta destes acontecimentos no futebol feminino, trouxeram cada vez mais pessoas aos estádios. E ainda que a televisão seja importante na divulgação e cobertura das competições oficiais, algo que tem atingido níveis de audiência nunca antes vistos na modalidade, o facto de receber mais pessoas nos estádios tem sido o fator principal desta explosão. Com a seleção portuguesa na mira de todos os amantes de futebol feminino, o Euro 2022 chegou na altura certa para começar a haver um maior envolvimento de todo o país no apoio às nossas representantes. Depois de a primeira presença em campeonatos da Europa em 2017 ter passado despercebida no panorama nacional por não haver o interesse que há hoje, este Europeu em Julho deste ano, deu uma imagem completamente diferente do que pode vir a ser o futebol feminino nos próximos anos. Portugal ficou pelo caminho na fase de grupos após defrontar seleções de elite como a Suíça, Suécia e Países Baixos, mas o trajeto até ali foi mais do que ultrapassar barreiras dentro das 4 linhas… foi também ultrapassá-las fora delas. Em Wembley, uma moldura humana de 87.192 espectadores, assistiu à final do Europeu que coroou a Inglaterra como campeã num jogo recheado de bom futebol. Foi o maior recorde de assistência total em Campeonatos da Europa, com a presença nos estádios de mais de 574 mil espectadores ao longo de toda a competição. São números notáveis, dignos da força de vontade de uma geração de jovens lutadoras que procuram um lugar de respeito e consideração nesta sociedade. E isto tem sido frequente. No futebol e em todas as áreas da nossa vida, as mulheres finalmente começam com todo o mérito e reconhecimento a ter cada vez mais um papel ativo e essencial para o crescimento do mundo em todas as frentes.
A seriedade na organização destas grandes competições tem sido muito importante. O marketing associado às competições, a publicidade, os investidores, o profissionalismo, fez crescer de forma muito repentina uma realidade que parecia viver na sombra do futebol masculino. Para termos em conta, no Mundial de 2019, em França, chegou-se aos mais de 1000 milhões de espectadores, contando com os estádios, com as audiências nas televisões, tudo!
Foi com o maior orgulho que vi, após estes meses, a seleção portuguesa de futebol feminino alcançar o 22º lugar do Ranking da FIFA, melhor classificação de sempre da história do nosso país. Mas a notícia desta semana que regista a maior afluência de sempre de atletas praticantes de futebol e futsal feminino federado, é o ponto de viragem para começar a escrever uma das páginas mais bonitas da história da modalidade. São mais de 13.000 mulheres a praticar futebol no nosso país. Desde crianças, adolescentes, jovens, adultas, o futebol começa a ser um espaço para sonhar.
E a isso devemos o esforço dos clubes portugueses que adotaram as modalidades femininas ao seu quotidiano, o esforço das jogadoras que durante anos lutaram para melhorar a competitividade dos nossos campeonatos e hoje em dia têm um campeonato cada vez mais atrativo para jogadoras internacionais e com grande experiência. Este testemunho que vivemos está a ser passado com os exemplos certos, com a abordagem ideal. E sem pressas cá vemos, cada vez mais meninas a sonharem um dia serem como as referências que veem brilhar na nossa seleção e nos clubes nacionais e internacionais.
Todo este ambiente de grandiosidade, invade a esperança de em 2023 fazermos história. Portugal está próximo de conseguir um lugar no Campeonato do Mundo de futebol feminino pela primeira vez. O sonho está mais perto do que nunca e seria o cenário mais encantador para o nosso país. Mais do que um sonho, é um prémio para todas as mulheres. Pelo trabalho, dedicação, suor, lágrimas, sorrisos que largam diariamente para poder ter as mesmas condições que o futebol masculino.
Já faltou mais, mas o caminho é longo. É preciso medidas que partam diretamente dos clubes, da Federação, das empresas que detém os direitos televisivos. É preciso chamar público ao espetáculo, para isso promover o futebol e cativar investidores que projetem o nível nacional a outro patamar. Mas enquanto isso não acontece, é maravilhoso ver semana após semana a competitividade e a qualidade das equipas portuguesas a vir ao de cima contra grandes colossos do futebol mundial. A forma como o Benfica discutiu a fase de grupos colocando-se na mesa dos crescidos (Barcelona e Bayern). Desta vez não deu, é verdade, mas ficou uma majestosa imagem do nosso potencial enquanto Liga BPI que conta com um equilíbrio excecional de várias equipas que demonstram um nível completamente superior ao apresentado em anos anteriores. Este equilíbrio dará ao representante português nas competições europeias um maior estofo para superar as adversidades. E só com boas campanhas, poderemos sonhar com mais vagas na Europa.
A partir de 2024, por ordem da UEFA, só podem disputar competições europeias masculinas os clubes que tiverem uma equipa feminina. É uma decisão que por um lado, ainda não dá independência ao futebol feminino para o seu crescimento máximo, mas ajuda no sentido de dar cada vez mais condições para o desenvolvimento da modalidade em mais pontos no mundo, com a imposição de dar as mesmas oportunidades a homens e a mulheres de vingarem no desporto rei!
Se 2022 foi incrível… 2023 tem tudo para ser especial! Assim torcemos para que seja!